terça-feira, 16 de maio de 2006

Anotações implicam vice-presidente dos EUA no Plamegate

As anotações feitas no artigo do embaixador Joseph Wilson publicado no jornal The New York Times em 6 de julho de 2003 negando que o Iraque tivesse tentado comprar urânio no Níger envolvem o vice-presidente dos Estados Unidos, Dick Cheney, no Plamegate. O procurador especial Patrick Fitzgerald apresentou-as como prova no inquérito sobre o escândalo que atormenta o governo George Walker Bush.

Como vingança porque o embaixador derrubou um dos argumentos que justificaram a invasão do Iraque, usado no discurso sobre o Estado da União do presidente Bush em janeiro de 2003, a Casa Branca deixou vazar para a imprensa que Valerie Plame, mulher de Wilson, era uma agente secreta. Isto é um crime grave porque a lei americana protege a identidade dos agentes secretos em nome da segurança nacional.

Em 14 de julho de 2003, o colunista conservador Robert Novak revelou que Valerie Plame era funcionária da Agência Central de Inteligência (CIA), o serviço de espionagem dos EUA, sugerindo que ela poderia ter influenciado o relatório do marido. Nada lhe aconteceu mas a repórter Judith Miller, do New York Times, ficou 85 dias presa por se negar a depor como testemunha para não revelar sua fonte e Matthew Cooper, da revista Time, entregou à Justiça seu caderno de repórter, revelando a fonte.

Há sete meses, depois de denunciar o chefe de gabinete de Cheney, Lewis 'Scooter' Libby, em outubro passado por perjúrio e obstrução de Justiça no mesmo caso, o procurador especial Patrick Fitzgerald disse não haver indícios de envolvimento do mais poderoso vice-presidente da História dos EUA. Por causa da mediocridade de Bush, Cheney é considerado o homem-forte do governo.

Nas anotações, o vice-presidente questiona o envio de Wilson naquela missão especial, em 2002, para investigar se o Iraque tentara mesmo comprar urânio no Níger, uma informação passada pelo serviço secreto italiano da era do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, um dos aliados europeus de Bush: "Já fizemos isto antes, enviar um embaixador para avaliar uma situação destas? Normalmente enviamos este tipo de gente para uma missão destas? Ou enviamos sua mulher junto?"

O tom do comentário e a alusão a Valerie Plame tornaram Cheney suspeito. Na sexta-feira, o procurador Fitzgerald apresentou o artigo anotado como mais uma peça do processo. Outro suspeito é o principal assessor político de Bush, Karl Rove, que está sendo investigado mas não foi denunciado.

Radical e linha dura, Cheney sempre insistiu na existência pelo menos de programas para desenvolver armas de destruição em massa e numa conexão igualmente inexistente entre Saddam Hussein e a rede terrorista Al Caeda, liderada por Ossama ben Laden.

Como fundamentalista, Ben Laden considera Saddam e os outros líderes árabes secularistas e supostamente esquerdistas como traidores do Islã. Já disse que, "se for preciso, vai se aliar aos comunistas para combater os cruzados" [ocidentais], mas é assim que vê Saddam, o líder líbio Muamar Kadafi e o presidente sírio Bachar Assad, como comunistas.

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